Estes últimos meses não têm sido muito bons para a Bethesda, desde o lançamento de Fallout 76 que foi um falhanço a todos os níveis e a cada semana que passava, havia uma nova polémica à volta deste jogo.
No entanto, a luz ao fim do túnel parecia estar próxima, uma vez que o novo Rage prometia um mundo apocalíptico com uma temática punk que lembrava o estilo Mad Max. A jogabilidade era muito parecida com a de Doom e existiam poderes e armas para despachar os inimigos da forma mais elaborada possível, ao estilo de Bulletstorm.
Após ter jogado Rage 2, a jogabilidade é incrível, mas tudo o resto neste jogo desilude… bastante.
Um mundo com potencial, mas sem substância
A história de Rage 2 começa com um ataque à nossa base militar pela Authority, liderada pelo retornado General Cross que possui ao seu dispor uma força composta por mutantes equipados com fatos de alta tecnologia. Ao iniciar a missão, podemos escolher se somos um homem ou mulher, ambos chamados Walker, sendo que a única coisa que muda na história é a voz e uma designação que não vou revelar.
Durante essa missão, recuperamos um fato de Ranger criado através de Nanotrite, uma tecnologia proveniente das Arks que fazem parte da história de Rage já desde o original. Este fato confere poderes sobre-humanos e é um dos elementos chave da jogabilidade.
No ataque, a líder da resistência Prowler morre e cabe-nos a nós encontrar os membros do Project Dagger, uma arma capaz de derrotar o General Cross e, consigo, a Authority.
A campanha possui cerca de 8 missões, que achei muito poucas considerando que pouco ou nada se desenvolve durante estas missões. Em cada uma, temos basicamente de recuperar algum componente para construir o Project Dagger. A luta final é incrivelmente desapontante e fácil, sendo apenas um boss gigante com movimentos bastante fáceis de prever, sendo que entre cada fase temos de lutar contra alguns inimigos que enfrentamos centenas de vezes antes.
Confesso que quando acabei fiquei: “é isto??”, uma vez que ainda nem metade das armas e poderes tinha desbloqueado. Mas infelizmente era só mesmo aquilo.
As missões secundárias comuns em jogos de mundo aberto não existem. Na verdade, podem falar com certos NPCs nas cidades que vos indicam localizações no mapa mas essas missões são iguais a todas as outras que podemos fazer ao longo do jogo.
Estas missões são incrivelmente genéricas e aborrecidas, “busy work” do pior que já vi, ainda pior que o de muitos jogos da Ubisoft. Temos essencialmente bounties onde temos de eliminar inimigos procurados que nem se destacam dos restantes membros do grupo, derrotar todos os inimigos em campos espalhados ao longo do mapa, derrotar Sentries da Authority que possuem sempre algum obstáculo que podemos usar para fazer “cheese” ao boss e nunca sermos atingidos, desbloquear rotas e encontrar as Arks espalhadas pelo mapa, para obter novos poderes.
Cada atividade confere pontos para elevar o nível dos Projetos, sendo que existem 4 categorias, uma para cada NPC principal. Estes projetos permitem desbloquear upgrades que facilitam bastante a vossa vida e estão focadas em diferentes componentes da jogabilidade.
Por exemplo, uma melhora as vossas capacidades de combate, permitindo que causem mais dano, sejam mais móveis e consigam manter uma corrente de mortes por mais tempo. Outra permite que gastem menos recursos ao construir gadgets, melhores preços nas lojas, etc.
As armas e os poderes também podem ser melhorados. Para tal, precisam de Feltrite, uma moeda que encontram em baús e ao derrotar inimigos e núcleos que conseguem obter em baús especiais e ao derrotar inimigos poderosos.
Existe uma abundância de upgrades para desbloquear e podem ter de farmar atividades para conseguirem desbloquear tudo. O problema é que não existe conteúdo que faça valer a pena desbloquear estes upgrades. Consegui terminar a história praticamente com dois poderes e uma Assault Rifle e Shotgun praticamente a nível máximo. Tudo mais que isto só serve para conseguirem derrotar os inimigos de forma mais criativa e fazer combos absurdos.
A interface dos menus também é bastante confusa e talvez faça parecer que o sistema de upgrades é mais difícil do que realmente é. A verdade é que ao fim de 12 horas de jogo ainda ficava meio perdido à procura do menu certo para aumentar um poder.
O jogo é completamente carregado pela jogabilidade
Uma das componentes mais importantes de um jogo, é o loop de jogabilidade. Se este for bem feito, polido e afinado, conseguimos aguentar missões genéricas e busy work de forma mais fácil, visto que nos estamos a divertir a fazê-los.
É exatamente isso que Rage 2 consegue, uma jogabilidade rápida, fluída e incrivelmente afinada ou não seria a ID Software um dos estúdios responsáveis por desenvolver este jogo.
As armas possuem peso, mas são fáceis de controlar, cada uma possui algum tipo de funcionalidade especial. O modo Overdrive permite desfazer vários inimigos de forma rápida e brutal, enquanto recupera os poderes e saúde. Cada poder pode ser combinado para destruir os inimigos de forma satisfatória e ao atingirem o nível máximo com alguns deles, vão sentir-se verdadeiros deuses neste jogo.
Uma das características mais predominantes do Rage original, era a condução. Em Rage 2 é o elemento mais fraco da jogabilidade. Além de quase não existirem inimigos para lutarem no mundo de jogo, sendo os existentes uma espécie de mini bosses que vagueiam pelas estradas, a própria condução em si é muito má, os veículos viram de forma estranha e disparar enquanto conduzem é penoso.
Na consola, este jogo joga-se muito bem, mesmo para quem não tem muita prática a jogar em comandos, Rage 2 está facilmente ao nível de Destiny, sendo que as armas são ainda mais fáceis de controlar e o aim assist está bastante equilibrado, permitindo atacar imediatamente um inimigo após derrotar o anterior, ou disparar facilmente sobre vários ao mesmo tempo sem que o aim assist nos atrapalhe.
Gráficos, som e performance
No PC, Rage 2 é um jogo com um aspeto incrível, especialmente a 4K com tudo ao máximo. Para conseguirem estes detalhes e um bom frame rate precisam de uma RTX 2080 TI, como é o meu caso, sendo que o jogo consegue manter os 4K60 FPS na maioria dos tempos, atingindo mais em certos locais mais fechados.
Na PS4 Pro, o jogo corre a 60 fps fluidos praticamente durante todo o tempo, mas os sacrifícios gráficos são notórios. Para começar, parece que o Ambient Occlusion foi retirado, dando aos elementos do jogo um aspeto artificial, quase como se fossem de cartão. Também existe uma notória falta de anti aliasing, com muitos serrilhados e algum pop-in de artefactos que são bem visíveis. Em certos locais onde o mundo apresenta mais detalhes, é introduzido um Depth of Field bastante intenso, dando uma simulação de miopia bastante desagradável.
No entanto não quer dizer que o jogo seja horrível durante todo o tempo, dependendo da hora do dia, os efeitos de luz conferem um aspeto fenomenal ao jogo.
A nível de som, o voice acting dos atores está muito bem feito, quer para os NPCs, quer para ambas as versões de Walker. O som dos veículos, explosões e armas também são realistas e bem equalizados. Em relação à banda sonora, quando se faz ouvir é bastante boa, mas existem muitas alturas em que o jogo fica desnecessariamente silencioso.
Conclusões
Rage 2 é um jogo com uma excelente jogabilidade, que é praticamente arruinado por uma campanha curta que pouco desenvolve o mundo de jogo, que por sua vez é vazio, desinspirado e cheio de tarefas aborrecidas. O sistema de progressão é muito interessante e vasto, mas o potencial do jogo fica agrilhoado ao fundo do poço por causa dos elementos negativos.