Marvel’s Spider-Man 2 é um dos grandes lançamentos exclusivos da Playstation 5 para 2023 e é uma continuação do excelente Marvel’s Spider-Man da Insomniac Games lançado em 2018, que teve uma expansão focada em Miles Morales em 2020.
O primeiro jogo foi muito provavelmente o melhor jogo de Spider-Man lançado desde Spider-Man 2 em 2004, com o mais recente Web of Shadows lançado em 2008 a ser também um jogo bastante sólido.
Olhando para ambos os jogos, à primeira vista pode não parecer que existiu grande evolução mas essa tem sido a tendência da Sony desde a última geração em que arriscam e criam uma fundação incrivelmente sólida no primeiro jogo, para nas sequelas expandirem e construírem sobre essa fundação.
Spider-Man 2 inclui imensas melhorias em relação ao jogo original. Graficamente temos uma cidade maior e incrivelmente detalhada, com densidade populacional e de veículos a povoarem as ruas de Nova Iorque bastante superior ao original.
A nível de mobilidade, a maior novidade é o Wing Suit que permite ao Spider-Man voar pelas ruas da cidade a grande velocidade e novas formas de utilizar as teias para navegar entre os arranha-céus de Nova Iorque com enorme fluidez e velocidade.
A nível técnico temos um sistema de troca de personagens e fast travel tão rápidos e sem qualquer loadings, que nos permite ir para qualquer ponto da cidade de forma instantânea, Ray Tracing em todos os modos gráficos e excelente integração com o comando DualSense assim como a quase não existência de bugs.
Mas alguns dos pontos menos positivos do fantástico jogo original ainda se mantêm nesta sequela, mas vamos ver o que o pacote completo nos oferece.
2 Spider-Man
Em Spider-Man 2 controlamos ambos os Spider-Man: Peter Parker e Miles Morales. A sequela começa após os acontecimentos do jogo original e da expansão focada em Miles e se o foco do primeiro jogo era Peter a descobrir-se enquanto o herói que Nova Iorque precisa, a sequela foca-se mais na dificuldade de Peter e Miles em conseguirem conciliar os seus deveres de proteger a cidade, com o dia-a-dia de uma pessoa normal.
Peter não consegue manter um emprego estável pois tem de constantemente desaparecer para salvar alguém e Miles arrisca-se a perder a oportunidade de entrar na universidade dos seus sonhos devido às mesmas razões.
Toda esta situação cria uma dinâmica interessante entre os dois heróis e os amigos e familiares que os rodeiam, mas também permite a ambos apoiarem-se um no outro visto que não precisam de fazer tudo sozinhos, mesmo que acabem por se desiludir um ao outro quando a pressão aumenta.
Logo no início, o jogo apresenta-nos os dois antagonistas principais: Kraven e Venom.
Kraven, o Caçador, após anos sem conseguir uma presa que o satisfaça descobre que Nova Iorque é uma excelente selva com várias presas interessantes sob a forma dos vários vilões que causaram o caos ao longo dos tempos.
Venom é apenas mostrado no início na sua forma base mas apenas tem um papel preponderante na história muito mais à frente.
Confesso que Kraven não é o meu vilão favorito. Algo que gosto nos vilões de Spider-Man é o facto de a maioria deles serem vítimas de circunstância e que apenas se voltaram para o mal devido a acontecimentos traumáticos e acidentes, mas mantêm sempre uma réstia de bem que lhes permite uma redenção.
Kraven não é nada disto. É literalmente uma máquina de matar que apenas quer o prazer de uma boa caçada sem se preocupar com a destruição que causa, o que acaba por torná-lo bastante unidimensional comparado com os restantes.
Aliás, o facto de os outros vilões terem algum ponto de redenção é o que acaba por causar o confronto entre os Spider-Man e o clã de caçadores de Kraven, pois a fé que os heróis têm na capacidade destes vilões se voltarem para o lado do bem, torna-os dignos de serem salvos em vez de serem ignorados e enviados para a morte certa.
Venom entra em ação quando devido a certos acontecimentos que quase causam a sua morte, Peter acaba por ver o simbionte alienígena tomar conta do seu corpo salvando a sua vida. No inicio, Peter fica extasiado pelo novo poder adquirido que o torna mais forte, rápido e resistente ao dano.
No entanto se já viram qualquer conteúdo de Spider-Man com Venom, em particular o 3º filme de Sam Raimi, sabem que este poder adicional vem com o problema de a mente de Venom e Peter se sincronizarem aos poucos.
Isto significa que Peter começa a tornar-se mais agressivo, violento e vingativo. As suas interações com os seus amigos e familiares tornam-se mais ríspidas sempre que estes demonstram preocupação para com ele e o próprio Peter começa a isolar-se inclusive de Miles, que a seu ver causa mais problemas do que arranja soluções.
Toda esta mudança de Peter tem um impacto ainda maior pois durante todas as horas anteriores da campanha, a Insomniac fez um excelente trabalho em nos mostrar o quão fortes são os laços entre Peter e os seus amigos e família.
Existe uma missão excelente que também serve como tutorial na qual Harry Osborn regressa do hospital após meses em tratamento de doença e faz de bicicleta o caminho que faziam antigamente até à sua escola secundária.
Depois, dentro da escola, temos de encontrar o antigo cacifo de Peter mas em vez de o fazermos no tempo atual, somos colocados num flashback no qual jogamos com Peter quando estava no secundário e tinha acabado de obter os seus poderes de aranha, com vários saltos para o presente entre as secções da missão, culminando num emocional momento de irmandade entre Peter e Harry.
Peter e MJ têm uma relação interessante na medida em que, ao contrário do filme Spider-Man 3 em que MJ se afasta de Peter quando este muda a sua atitude devido à presença de Venom, neste jogo vemos a atitude completamente oposta.
Devido à incapacidade de Peter manter um emprego estável e o seu próprio emprego no Daily Bugle estar em risco devido à insistência de Jameson em focar-se nos artigos sensacionalistas, esta mudança de atitude de Peter é o catalisador que força MJ a tomar uma atitude que lhe permita recuperar o controlo da situação, visto que Peter não pode servir de muleta para se apoiar e tem de ser ela a muleta que apoia Peter mesmo que as suas atitudes lhe causem sofrimento.
Tal como no primeiro jogo, existem alguns níveis nos quais controlamos MJ e apesar de serem melhores que os do primeiro jogo, existe um pequeno grande problema.
A Insomniac decidiu transformar MJ em Ellie de The Last of Us nestas secções. Em vez de apenas usarmos a furtividade para chegar do ponto A ao ponto B, agora temos forma de nos defendermos com o uso de um taser.
No entanto, isto deveria ser uma ferramenta usada como último recurso caso sejamos detectados pelos inimigos, mas MJ é capaz de quase derrotar um pelotão de caçadores com o seu taser de carga infinita.
Vários destes níveis são em bases dos caçadores de Kraven e digamos que é difícil acreditar que os supostos melhores caçadores do mundo não conseguem detetar ou seguir uma mera jornalista que acabou de incapacitar um companheiro com um taser.
Tirando isto, os níveis de MJ são relativamente curtos e são uma boa mudança na jogabilidade e estão colocados em pontos específicos da história que não vão causar uma quebra abrupta do ritmo.
Miles também vê um desenvolvimento interessante ao longo do jogo e apesar de não ser claramente o foco principal da história, o seu arco acaba por ser o de aprender com os erros de Peter enquanto consegue lidar com o seu conflito interno causado pela morte do pai e conciliar a sua vida de adolescente com a de super herói, enquanto é preparado como o futuro Spider-Man de Nova Iorque.
No geral gostei imenso da história, acho que foi muito bem contada e apesar de não ser propriamente imprevisível, a Insomniac colocou algumas mudanças interessantes que acabam por subverter as nossas expectativas.
Nova Iorque expandida mas pouco inovadora
Uma das principais mudanças em relação ao primeiro jogo, é a expansão de Nova Iorque que além de Manhattan, agora inclui as zonas de Brooklyn e Queens.
A tipografia ser completamente diferente com Manhattan conhecida pelos seus arranha-céus, Brooklyn e Queens apresentam-se como mais rasteiros com zonas industriais compostas por armazéns e os típicos subúrbios de vivendas que vemos nas orlas das grandes cidades dos EUA.
No entanto, todas estas zonas jogam-se de forma igual, com a diferença de que em Brooklyn e Queens existem zonas nas quais não conseguimos colar as nossas teias e por isso temos de usar o wing suit.
Mas tirando isso, estas zonas apenas servem para introduzir mais conteúdo secundário que não muda propriamente face ao mesmo conteúdo noutras partes da cidade. Ao longo do jogo vamos desbloqueando novos tipos de missões secundárias que geralmente são introduzidos numa missão principal e apresentam um novo inimigo ou fação inimiga.
Teria sido uma boa oportunidade separar mais estas missões pelos diferentes distritos para oferecer uma dinâmica de jogabilidade diferente em cada e que se adaptasse melhor ao cenário dessa zona.
Aliás, existe um tipo de missão secundária que apenas aparece em Manhattan na qual temos de derrotar caçadores que se encontram camuflados no topo de edifícios e interagir com um computador para descobrir a sua base secreta para que a possamos desmantelar. Isto apenas acontece em Manhattan devido à altura dos arranha-céus, algo que não seria possível no resto da cidade.
O wing suit foi uma adição interessante assim como várias melhorias na velocidade ao balançar nas teias que permitem atravessar a cidade de forma bastante rápida. No entanto, sinto que o jogo focou-se em demasia no wing suit e mesmo um dos tipos de missões secundárias envolve usar esta ferramenta para concluir o objetivo, retirando um pouco a fantasia de ser o Spider-Man.
Existem também alguns problemas com o Wing Suit que por vezes é demasiado rápido para o seu próprio bem e a câmara tem dificuldades em acompanhar, especialmente quando temos de fazer curvas apertadas. Também não ajuda a sensibilidade de virar ser algo inconsistente com pouca aceleração no início do movimento do analógico que transita para bastante aceleração ao movermos o analógico mais um pouco. Várias vezes acabei a bater em prédios por causa disto.
Combate fluido e desafiante
O combate em Spider-Man era bastante variado e fluido e a sequela não desilude. O combate continua bastante fluido e ainda mais variado agora que temos dois Spider-Man com poderes distintos.
O número de gadgets que temos à nossa disposição foi reduzido em relação ao primeiro jogo mas os seus upgrades tornam-nos bastante poderosos e permitem efetuar vários combos interessantes.
Podemos atirar os inimigos ao ar ou puxá-los todos para o mesmo local, causando imenso dano quando vêm objetos dos cenários à mistura, colá-los com teias contra obstáculos incapacitando-os imediatamente, entre várias outras possibilidades.
Os inimigos são geralmente compostos por 3 arquétipos. Os típicos inimigo básicos, inimigos de longo alcance e os Brutes maiores e mais resistentes. Cada fação depois introduz variantes destes inimigos, por exemplo os caçadores têm inimigos com escudo, cães robôs que podem neutralizar os vossos poderes ou inimigos com espingardas, bestas e lança rockets.
A furtividade manteve-se relativamente parecida ao original mas agora podemos usar uma ferramenta que nos permite ligar dois pontos do cenário com uma teia, criando novos pontos a partir dos quais podemos derrotar os inimigos furtivamente.
Todas estas habilidades podem ser melhoradas com parts e tokens que recebemos ao completar missões principais, secundárias ou em baús espalhados pela cidade.
Apesar de não ser propriamente necessário “farmar” estas moedas de troca, convém saber priorizar quais os upgrades a obter primeiro. O meu conselho é adquirir o primeiro nível de cada gadget e depois focar os vossos recursos nos upgrades do fato.
Estes upgrades permitem-vos atravessar a cidade mais rapidamente com as teias e o wing suit, aumentar o dano que causam com os vossos golpes, aumentar a vossa saúde ou a quantidade de focus que recebem durante os combates, que vos permite curarem-se sempre que enchem uma das barras de focus.
Ter estes upgrades rapidamente é uma chave para facilitar a vossa vida pois o jogo é bastante desafiante. Joguei em Amazing, a dificuldade pré-definida e a segunda mais difícil e acabei por morrer várias vezes, especialmente quando somos rodeados por grandes quantidades de inimigos e existem vários tipos à mistura, especialmente quando alguns desses são de longo alcance.
A câmara é um dos aspetos do combate que menos gostei, algo que não era tão problemático no primeiro jogo, mas agora com a maior quantidade de inimigos que temos de defrontar muitas das vezes é fácil perdermos o inimigos devido à câmara, especialmente quando estamos perto da parede.
Os poderes de Miles e Peter são completamente diferentes e isso permite uma variedade enorme durante os combates. Miles pode usar os seus poderes elétricos ou uma versão evoluída da sua eletricidade que obtém durante a campanha. Peter pode usar os seus braços de aranha robóticos ou os poderes obtidos pela presença de Venom.
Vários destes poderes pertencem ao mesmo slot no equipamento então temos de escolher um por slot mas existe muita margem para experimentar.
As lutas de bosses foram bastante melhoradas na sequela. Agora são verdadeiras lutas de bosses com direito a barra de vida e, nalguns casos, várias barras de vida cuja transição é geralmente precedida por uma cinemática ou mudança de cenário.
Acho que todas as lutas de bosses foram excelentes e desafiantes, com as táticas e ataques dos bosses a mudarem e serem mais agressivos entre cada barra de vida e, muitas vezes, trazendo inimigos menores para a luta obrigando-nos a ter de gerir o nosso foco entre os vários alvos.
Gráficos, performance e som
Graficamente, Spider-Man 2 é excelente. O primeiro jogo também o era e apesar de à primeira vista não parecer que existe grande evolução na sequela, como disse anteriormente, existem vários aspetos técnicos que foram bastante melhorados.
A densidade de pessoas e carros nas ruas é muito maior, a cidade é maior e podemos fazer fast travel entre qualquer local de forma instantânea e sem loadings. Até existem NPCs dentro das casas e escritórios dos prédios completamente animados e geralmente a imitar alguma rotina, que achei absolutamente fascinante e uma tremenda evolução face às imagens em cartão que tínhamos no primeiro jogo.
Além disso o jogo inclui Ray Tracing em todos os modos gráficos. Estes modos são 4K Fidelity, 4K Performance e um modo intermédio. O Fidelity corre a 30 FPS e apesar de geralmente preferir o modo de 60 FPS, o frame pacing do jogo é tão bom que joguei a 30 FPS e nem notei qualquer arrasto ou abrandamento no jogo que geralmente acontece neste tipo de framerate.
O modo 30 FPS também inclui maior densidade populacional e detalhe nos reflexos do ray tracing que diga-se, está fantástico considerando que estamos a falar de uma consola. Em certos fatos dos Spider-Man, é possível ver alguns dos reflexos nos olhos ou mesmo no próprio fato.
O modo intermédio permite colocar o jogo a 40 FPS com VRR que, caso tenham uma TV ou monitor com HDMI 2.1 permite uma experiência mais fluida que os 30 FPS sem os compromissos visuais que vêm no modo de Performance.
Em termos de polimento do jogo, sofri um crash nas primeiras horas e encontrei um ou outro inimigo preso dentro da geometria, mas tirando essas duas ocorrências, não encontrei mais nenhum bug durante todo o jogo.
A nível sonoro, o voice acting é excelente com particular destaque para Venom e principalmente Peter quando está no pico da influência do fato simbionte. A banda sonora também é boa, especialmente a música de fundo durante a exploração que se mistura bem com o som das cidades.
Outro destaque está para as conversas dos NPCs. Se perderem algum tempo à escuta, vão perceber que existem várias histórias para descobrir e algumas conseguem ser bastante assustadoras.
Conclusões
Marvel’s Spider-Man 2 é um excelente jogo que apesar de familiar, consegue melhorar a maioria dos aspetos do jogo original.
Ainda sofre de alguns dos problemas, especialmente no facto de as atividades no mundo aberto ainda seguirem bastante a fórmula “Ubisoft”, mas tirando isso é um jogo que considero obrigatório para qualquer dono de uma Playstation 5.
