Review do Mafia 3: um mundo aberto com muitos bugs

Review dos Leitores3 Votes
90
História interessante
Recriação fiel da sociedade dos anos 60
Sistema de combate
Portabilidade péssima para PC
Repleto de bugs
Alguns elementos gráficos datados
Missões extremamente repetitivas
Mal optimizado
65

Um dos meus jogos favoritos da geração passada foi, sem dúvida, o Mafia 2. Uma história envolvente, bem escrita, personagens carismáticos e um grafismo de luxo, especialmente ao nível do motor de física. Tudo isto transformou o Mafia 2 num jogo obrigatório para qualquer jogador. Quando anunciaram o novo título Mafia 3, fiquei, naturalmente, entusiasmado.

Em Mafia 2 vimos uma abordagem ao jogo diferente do original, com um mundo mais aberto à exploração, mas ainda assim, limitado em termos de atividades e conteúdo. Mafia 3 tentou introduzir um mundo ainda mais aberto, vasto e detalhado. Mas será que isso foi bom? Veremos.

Antes de analisar mais profundamente o jogo, queria felicitar a 2K por ter tido a coragem de retratar de forma tão fiel, fria e violenta a sociedade dos Estados Unidos na década de 60. Nesta época o racismo era constante e a sociedade em si, extremamente dividida de acordo com as raças. Numa altura em que existem tantas pessoas facilmente ofendidas, não deve ter sido uma decisão fácil ter como uma das temáticas centrais do jogo o racismo.

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História de Mafia 3

Atenção, nas próximas linhas existem Spoilers sobre o inicio do jogo.

Em Mafia 3, jogamos com Lincoln Clay, um ex-soldado negro que voltou da guerra do Vietname. Quando volta descobre que a família mafiosa que o adotou está a ser bastante pressionada por um gangue rival.

Este gangue de Haitianos tem vindo a invadir cada vez mais o território da sua família, o que faz com que não consigam pagar as dívidas a Sal Marcano. Sal é um mafioso italiano que praticamente governa a cidade de New Bordeaux, uma representação de Nova Orleães.

Após chegar da guerra, Lincoln vê-se obrigado a ter de eliminar o gangue rival e assaltar a reserva federal para conseguir pagar a Sal.

Obviamente que isto acaba por correr mal, pois Sal trai Lincoln e o seu pai adoptivo Sammy, matando toda a sua família e o Lincoln com um buraco de bala na testa. Para sua sorte, o ferimento não foi fatal e consegue sobreviver graças a James, o padre que dirigia o orfanato onde Lincoln cresceu.

Recuperado do ataque, Lincoln apenas procura vingança. Para tal, precisa de novos aliados para o ajudar a tomar a cidade das mãos dos mafiosos, da forma mais brutal e violenta possível. É definitivamente uma daquelas histórias de vingança à moda antiga.

New Bordeaux e Aliados

A cidade de New Bordeaux é um bom passo em frente face a Empire Bay de Mafia 2. Para começar, cobre uma área muito maior e é mais densa e detalhada. Ainda assim, acredito que pudesse ser ainda mais densa, com mais carros e pessoas na rua.

A cidade está dividia em diversos distritos, como por exemplo:

  • Hollow, onde mora a maioria da comunidade negra e é uma zona onde a pobreza é notória, com diversas cantinas de caridade e casas em ruínas,
  • Frisco Fields, o outro lado da moeda, com as suas mansões com enormes jardins e onde praticamente não se veem negros,
  • Downtown com os seus arranha céus,
  • Bayou, a zona dos pântanos repletos de jacarés e quintas.

Para dominar toda esta área, Lincoln conta com a ajuda de quatro aliados principais:

  • Cassandra, a antiga líder do gang Haitiano que foi eliminado por Lincoln, mas que agora se junta a ele para poderem destruir Sal,
  • Vito Scaletta, já conhecido por ser o protagonista de Mafia 2, é salvo por Lincoln quando Sal o manda matar,
  • Burke, um irlandês cujo filho participa no assalto à reserva federal com Lincoln e acaba também por ser assassinado aquando da traição de Sal;
  • Donovan, um amigo de Lincoln que participou na guerra com ele e agora faz parte da CIA e ajuda-o espiando a máfia. É também o melhor personagem do jogo.

Uma boa parte da história é contada através de gravações e entrevistas nas quais nos falam dos acontecimentos que estão para vir.

O problema é que acabamos por ser alvo de spoilers pois, por exemplo, antes de matarmos alguém, aparece numa cinemática Donovan a contar como o fizemos. Aconselho a esperar até ao fim dos créditos finais pois existe uma cinemática simplesmente deliciosa para terminar a história.

Estrutura das Missões

Ao longo do jogo, vamos ter de conquistar e controlar alguns dos diversos distritos que constituem a cidade de New Bordeaux. Para tal, será necessário tomar os diversos negócios ilícitos que estão nas mãos da máfia de Sal e, torná-los nossos.

Cada negócio é controlado por um líder que temos de atrair e possui um determinado valor. Ao causar dano suficiente, quer destruindo propriedade ou matando os soldados inimigos, o líder desse negócio aparece e temos de o confrontar. Assim, ele nos dará informações sobre os mafiosos de alto escalão ou Capos.

Inicialmente, estas missões são bastante interessantes e deixam mesmo a sensação de que estamos numa guerra entre máfias. Temos de nos infiltrar em armazéns e destruir a mercadoria, assassinar alvos específicos e interrogar certos soldados, etc.

No entanto, o grosso do jogo, e quando digo grosso, é aproximadamente 85% das missões giram à volta disto. A sequência é:

  1. Falar com um informante que nos indica o local dos negócios,
  2. Escolher quais queremos destruir primeiro,
  3. Causar o valor indicado em prejuízo,
  4. Falar com o informante,
  5. Atacar o líder (e voltar a repetir o processo uma vez mais),
  6. Assassinar o Capo de cada distrito para que fique nosso.

Sinceramente, não sei se hei-de gostar ou odiar o sistema de missões deste jogo. Por um lado é extremamente repetitivo, por outro podemos até escolher a forma como abordamos cada uma, se sorrateiramente ou entrando a matar. Acho que a principal razão pela qual não odiei completamente esta decisão por parte do estúdio, foi principalmente pela jogabilidade, a qual falarei mais à frente.

Após termos capturado um distrito, temos de o colocar nas mãos de um dos nossos aliados. Isso faz com que os seus lucros aumentem, desbloqueando novas armas e melhorias. Além disso, podemos passar missões secundárias para cada aliado, que aumentam a sua lealdade e lucros.

Os upgrades que temos à nossa disposição foram bem conseguidos. Além dos típicos upgrades das armas e os da personagem, foram introduzidos “poderes” específicos de cada aliado.

Os gratuitos são os seguintes:

  • Chamar uma carrinha que nos permite reabastecer de munições e adquirir as melhorias,
  • Um carro que recolhe o dinheiro que temos na carteira, bastante importante pois quando morremos, perdemos algum do dinheiro que temos connosco,
  • A possibilidade de trazerem até nós, um carro que escolhemos de uma lista bastante variada.

São coisas que normalmente fazemos manualmente noutros jogos, mas aqui foi-nos facilitado.

Os poderes pagos são os seguintes:

  • Chamar um grupo de soldados aliados para nos ajudarem,
  • Tirar a polícia do nosso encalço,
  • Impedir os inimigos de utilizarem os telefones para chamarem aliados ou a policia, no caso dos cidadãos.

Para utilizar estes poderes, é necessário ter Markers. Estas Markers são obtidas fazendo missões secundárias para os nossos aliados ou atribuindo-lhes um território, pelo que é importante não gastar tudo de uma vez.

Uma jogabilidade espectacular

Em termos de jogabilidade, o Mafia 3 dá um passo enorme para a frente face ao seu antecessor. A jogabilidade em Mafia 2 já era fenomenal, com o peso das armas a fazer-se sentir e um sistema de cobertura relativamente competente.

Em Mafia 3, houve uma melhoria substancial no movimento dos personagens, agora muito mais natural. As armas continuam a sentir-se bastante poderosas e, as reações dos inimigos quando são alvejadas, parecem bastante realistas.

Isto faz com que o tom mais violento do jogo seja ainda mais realçado. É brutalmente satisfatório, dar um tiro de caçadeira num inimigo e ver as paredes serem pintadas de vermelho, enquanto ele voa para trás e fica a contorcer-se no chão aos gritos. Este ano existem dois jogos nos quais fiz da caçadeira a minha arma principal: Doom e Mafia 3, portanto podem ver o quão boa a arma é.

Infelizmente só podemos carregar uma pistola e uma arma de duas mãos, que alteram a forma como abordamos as missões. Além do sistema de disparo muito bom, foi incluído um foco maior na vertente furtiva. Sendo um jogo que aposta mais no realismo, existem muitas alturas em que entrar a matar pode não ser a melhor solução.

Para tal podemos esgueirar-nos por entre os inimigos, de cobertura em cobertura até chegar ao nosso objetivo. Ainda podemos chamar e isolar os inimigos através de assobios, mas não podemos abusar pois os inimigos ficam instantaneamente em alerta.

O sistema de furtividade foi na sua maioria, bem implementado, mas existem alguns problemas a nível de IA e disposição dos inimigos.

Para começar, a IA inimiga é um pouco inconsistente. Muitas vezes detectavam-me de ângulos impossíveis, enquanto outras, viam-me literalmente a degolar um aliado à sua frente e nem faziam nada.

Algumas das missões que envolviam confrontar um líder eram impossíveis de fazer furtivamente, pelo menos sem eliminar ninguém exceto o alvo. Os seus aliados eram colocados de forma a que as suas rotas de patrulha fossem extremamente difíceis de contornar sem ser detectado, ou nunca deixavam o alvo isolado.

Devido à IA, muitas vezes não matava à primeira, colocando logo uma segunda bala fatal. Mas ainda assim era logo detectado pelo resto dos inimigos, mesmo aquele que matei estando sozinho e não ter feito qualquer barulho.

Além disso, é ridículo estarmos em 2016 e vermos inimigos voltarem-se instantaneamente quando estamos em combate, mas tentamos fugir sorrateiramente por detrás de cobertura para longe do perigo.

Gráficos e Áudio

Algo que também é ridículo ver em 2016 são as portabilidades para PC ao nível de Mafia 3. Quando foi lançado, o jogo vinha com um bloqueio a 30 FPS, algo insólito numa era em que os PC de topo já conseguem facilmente resoluções de 4K ou taxas de 144 ou mais FPS. Apesar de ter sido entretanto desbloqueado com um update, o jogo continua extremamente mal optimizado, tendo em conta os gráficos e densidade da cidade.

Estando a jogar no meu PC com uma GTX 1060, um i7 3770K e 8 GB de RAM, o jogo corre em média a 45 FPS nas definições mais altas. Se formos comparar com, por exemplo, GTA 5, o jogo possui grafismo superior, uma cidade maior e mais densa e, no entanto, corre acima das 60FPS nas definições mais altas. Definitivamente ainda vai precisar de muitos pensos até ter uma performance aceitável.

 Apesar de possuir efeitos de luz brilhantes, o compromisso tomado pelo aumento do tamanho e densidade do mapa foi uma redução na resolução de texturas e uma skybox extremamente amadora que quase lembra alguns jogos do inicio da PS2. Além disso, a maioria dos NPC repetem-se bastante, devendo existir uns 5 ou 6 tipos diferentes de cada. E nem me façam falar da duração dos loadings…

Os gráficos agora parecem bastante sujos e esborratados, ao contrário dos cenários límpidos de Mafia 2. Apesar de poder ser considerado como decisão de direção de arte.

Algo em que Mafia 3 se coloca acima da maioria dos jogos atuais é ao nível das cinemáticas. O detalhe dos personagens é simplesmente incrível, com sincronização labial perfeita, que dá vida aos personagens com as suas expressões faciais extremamente realista.

Combinado com um trabalho vocal perfeito, uma história com diálogos bastante interessantes e uma representação muito bem feita da sociedade em que se insere, Mafia 3 assume-se como uma experiência cinemática que nem jogos de mundo aberto como GTA conseguem igualar.

Possui uma banda sonora de rádio bastante boa, com muitos êxitos de bandas dos anos 60 a marcarem presença, como Creedence Clearwater Revival, Johnny Cash, Steppenwolf, Elvis, entre outros. Durante os combates, a música presente geralmente envolve excelentes solos de guitarra elétrica ao bom estilo de Rock e Blues, que combinam muito bem com os combates e o ambiente.

Conclusões

Mafia III é um jogo que tem dividido bastante as opiniões. Por um lado a história, personagens e as vozes são acima da média do que temos visto ultimamente. Por outro, a versão de PC veio com inúmeros problemas inaceitáveis. O design repetitivo das missões é claramente questionável, mesmo que as missões que avançam a história sejam bastante boas.

Apesar das comparações com o GTA serem inevitáveis, acho que não devem ser feitas: se querem um jogo com uma história muito interessante, cinemática, séria, violenta e não se importam com os bugs e má optimização presentes no jogo, então não deixem passar o Mafia III. Caso contrário, se ainda estão minimamente interessados, esperem por uma redução no preço.

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