A Guerrilla Games tem mesmo azar com o lançamento dos seus dois Horizon. O primeiro saiu na mesma semana de Zelda Breath of the Wild, um dos jogos com melhor cotação da história e o novo sai na mesma semana de Elden Ring, um dos jogos mais antecipados da última década e que tem sido alvo de excelentes críticas.
Mas mesmo assim, ambos os jogos conseguiram-se destacar pelo seu mundo aberto imersivo, excelente grafismo e história bastante misteriosa que nos fazia sempre querer avançar em frente.
Horizon Forbidden West tem exatamente tudo aquilo que fez do primeiro jogo bastante bom, mas é uma aposta na continuação daquilo que funcionou em vez de propriamente inovar e introduzir algo verdadeiramente novo ao género. Para o bem e para o mal.
Jornada para o Oeste (dos EUA)
Horizon Forbidden West começa exatamente onde o primeiro jogo acabou. Aloy descobriu a sua origem e os acontecimentos que levaram à extinção do velho mundo e à criação das máquinas que agora coabitam o planeta com os humanos.
Aloy parte em direção ao oeste dos EUA para descobrir uma solução para o início de uma nova extinção da humanidade, que enfrenta pragas e tempestades capazes de destruir qualquer aldeamento. Para tal, terá de encontrar todos os backups de GAIA, a IA responsável pela manutenção da biosfera terrestre e que poderá reverter os efeitos da degradação que causa estas pragas e tempestades.
Durante a viagem, Aloy vai-se encontrar com antigos aliados e novos inimigos. O destaque vai para os Tenakth uma tribo que domina o oeste e possui costumes altamente militarísticos. A principal antagonista é Regalla, uma antiga comandante dos Tenakth que juntou uma fação rebelde e consegue controlar as máquinas para as usar como armas de guerra.
Além dos Tenakth, Aloy vai encontrar diversas outras tribos, cada uma com identidade própria e arquitetura que reflete o local onde vivem. Os Tenakth habitam o deserto, por isso os seus aldeamentos estão mais ao nível do chão e fazem uso de antigas ruínas de metal para construir torres de vigia.
Os Utaru vivem nas zonas mais pantanosas e férteis do oeste, por isso as suas vilas são construídas sobre a água e fazem uso das árvores para aumentar a verticalidade das suas infraestruturas.
Ainda existem outras fações que não vou mencionar para evitar spoilers e estragar a surpresa.
Horizon Forbidden West introduz maior variedade no mapa, em vez de ser só neve ou areia, como no primeiro jogo. Agora existem, como disse, zonas pantanosas, zonas mais tropicais, ruínas de antigas cidades e as já habituais zonas desérticas e montanhosas com imensa neve.
Existem ainda condições climatéricas adversas, especialmente nos desertos que causam tornados ou tempestades de areia que reduzem imenso a visibilidade, dando um ambiente hostil ao mundo do jogo.
No que toca à história, gostei bastante porque começa logo a abrir desde o inicio. Não existe aquela introdução chata do primeiro jogo, que só entra mesmo nos carris quando chegam a Meridian. Toda a exposição é dada há medida que vão descobrindo as coisas novas e isso permite que o ritmo não seja quebrado (de certa forma).
Mas… este jogo tem muito diálogo. Imenso diálogo. Quantidades absurdas de diálogo. Felizmente, ao contrário do que acontece num dos últimos jogos que analisei, Pokemon Legends Arceus, não têm de ler tudo visto que existe voice acting, mas por vezes só queremos avançar com a história e deparamo-nos com umas 6 ou 7 opções de diálogo, opções que permitem escolher ainda mais opções e isso pode sobrecarregar o jogador.
Claro que se não vos interessa a informação secundária podem sempre avançar para o que interessa, mas se gostam de aprender todos os detalhes dos personagens e do mundo de jogo, Horizon Forbidden West faz um trabalho excelente.
Mas do mas… as animações do diálogo são provavelmente as melhores já feitas até agora. No primeiro jogo, os personagens pareciam espantalhos a olhar um para o outro e mal se mexiam. Neste existem imensas animações corporais, os personagens não só apresentam expressões faciais que refletem o tom da conversa de forma realista, como ainda se movem frequentemente e usam o corpo para enfatizar o que querem dizer. Ou seja, como pessoas normais.
O incrível é que não é só os personagens principais que tiveram direito a este tratamento. A maioria dos diálogos com personagens de missões secundárias possuem o mesmo tratamento, se bem que detetei uma ou duas vezes em que os personagens tinham comportamentos um pouco estranhos, como não olharem bem um para o outro, parecia que olhavam para o vazio. Mas no geral está incrível.
Demorei quase 29 horas a acabar a campanha ainda tenho imenso para descobrir. Existem partes do mapa que ainda nem visitei e imensas missões secundárias para terminar. Mas esta semana também saiu a nova expansão do Destiny 2 e Elden Ring e o tempo (infelizmente) é limitado. Mas este jogo tem conteúdo para precisarem umas 50-60 horas para completar tudo.
Jogabilidade familiar
Horizon Forbidden West aposta mais em expandir os sistemas existentes, do que propriamente em inová-los. Nem sempre é uma má ideia quando esses sistemas são sólidos o suficiente para oferecer uma boa experiência. Mas se não vão inovar, o aperfeiçoamento dos sistemas tem de levar à quase perfeição, uma vez que estão a trabalhar em terreno conhecido, e nem sempre é o que acontece neste jogo.
Começando pela melhoria mais significativa: o combate com a lança. Esta arma sempre foi uma espécie de equipamento secundário ao arco, na medida em que era mais usada para atacar inimigos atordoados ou eliminá-los de forma furtiva.
Neste jogo, foi introduzido um sistema de combos mais refinado e uma mecânica que permite carregar a lança com cada golpe e desferir um ataque poderoso que marca os inimigos. Ao acertar com uma seta nesta zona marcada, podemos causar imenso dano que muitas vezes é fatal.
Existem mais tipos de armas de longo alcance, não só arcos, que permitem atirar bombas, vários tiros de uma só vez e até lanças, que foram as que mais usei para derrotar inimigos mais poderosos, visto que causam imenso dano e explodem com partes dos inimigos.
A quantidade de formas que têm para derrotar os inimigos é às vezes até de mais, obrigando-vos a saltar de arma em arma para se adaptarem ao desafio que têm pela frente.
As árvores de habilidades foram altamente expandidas e dão maior ênfase ao facto deste jogo ser uma continuação do primeiro e Aloy ser uma guerreira mais capaz. Ainda existem algumas habilidades que conferem bónus passivos, como aumentar a quantidade de materiais que obtêm ao recolher plantas, a quantidade de poder das habilidades que recebem ao sofrer dano ou derrotar inimigos, etc.
Cada árvore possui habilidades chamadas Valor, que podem ativar quando enchem a barra. Existem várias, dependendo da árvore em que estão inseridas. Por exemplo, a que usei mais foi uma que permite beber uma poção que recupera a saúde ao longo do tempo e cura-vos de todos os efeitos negativos. É algo bastante útil em lutas longas e contra bosses que rapidamente vos fazem queimar todas as plantas medicinais e poções que têm no inventário.
Ainda existem habilidades para cada arma que podem desbloquear. Estas habilidades usam algo chamado Weapon Stamina que recupera ao longo do tempo e quando acertam em inimigos. Estas são usadas ao apontar a vossa arma e premindo o botão R1. Algumas, quando combinadas com armas elementais são extremamente úteis para colocar o efeito negativo nos inimigos, como por exemplo corrosão que aumenta o dano que causam às várias partes desse inimigo.
O sistema de crafting é semelhante ao do jogo anterior, na medida em que precisam de recolher peças dos inimigos que derrotam para fazer upgrades às armas e armaduras ou podem construir armadilhas, poções e munição enquanto estão num combate.
Fazer upgrade a uma arma permite inserir Coils, que conferem um bónus a uma das estatísticas da arma ou um dos seus efeitos. Os upgrades das armaduras também o permitem, mas estas agora vêm com vários bónus intrínsecos a cada uma, que aumenta em número com a raridade.
Estas armaduras permitem criar builds de uma forma que não conseguiam no primeiro jogo, que apenas vos davam bónus de defesa para os diversos elementos, mais os espaços para os coils. Neste, as armaduras vêm com esses bónus e níveis para as habilidades permitindo, por exemplo, fazer uma build focada em dano da lança, ou focada em usar habilidades mais vezes, recuperar saúde e resistir a dano quando estão num nível crítico de saúde, etc.
Para fazer estes upgrades, têm de usar partes que retiram das máquinas derrotadas. Nas dificuldades mais fáceis, basta derrotar essas máquinas e fazer o loot. Mas de normal para cima, têm de fazer scan com o vosso Focus e descobrir quais as partes que querem obter para esse upgrade, visto que apenas as podem recolher se as retirarem dos inimigos durante os combates. É um estilo que lembra imenso Monster Hunter e introduz uma componente de caça e sobrevivência ao jogo. Isto é reforçado ao poderem ainda cozinhar refeições para obter diversos bónus que vos ajudam nos combates.
Tal como no primeiro jogo, podem atravessar o mapa montados numa máquina que controlam usando o sistema de override e permite atravessar o mapa de forma mais célere. Mas uma excelente mudança é o facto de poderem fazer Fast Travel entre as fogueiras que descobrem ao longo do mapa sem necessitarem de um Fast Travel Pack. Tal como qualquer jogo de mundo aberto que se preze, quando desbloqueiam a forma de voar pelo mapa, a exploração atinge o pico da satisfação. Até lá, têm o vosso paraquedas digital que permite que se atirem até da montanha mais alta e possam cair suavemente no chão ou até atravessar enormes distâncias.
Mas vamos ao que o jogo não faz tão bem na jogabilidade. Primeiro é a câmara. Durante os combates, especialmente contra inimigos maiores, existem certos ângulos que tornam os combates incrivelmente frustrantes, especialmente quando são derrubados e deixam de ver Aloy na câmara.
Lutar contra inimigos perto de obstáculos como paredes, é um pesadelo e para ajudar à festa, os inimigos muitas vezes fazem tracking a meio de um golpe e mais parecem tirados do dark souls, tornando as esquivas muitas vezes inúteis. Pior ainda é o tempo que Aloy demora para se levantar que levou a situações em que fiquei “stunlocked” contra inimigos maiores que me atiravam logo ao chão mal me levantava.
Ao contrário dos inimigos, não existe tracking nos ataques com a lança e pior, não podem fazer combo cancel caso sejam atacados durante um combo vosso, fazendo com que muitas vezes o vosso ataque deslize pelos inimigos sem causar dano e deixando-vos abertos a um ataque deles.
Os arcos têm um comportamento estranho na medida em que a seta nem sempre vai na direção do ponto da mira. Por vezes, têm a mira em cima da cabeça do inimigo e a seta simplesmente passa ao lado. Outras, atiram ao lado mas a seta parece que tem magnetismo e acerta no inimigo. Esta inconsistência, aliada ao facto de muitos inimigos possuirem armaduras na cabeça faz com que usar arco e flecha de forma furtiva seja praticamente impossível nos níveis mais avançados.
O sistema de escalada funciona bem no geral, mas existem muitas situações em que Aloy simplesmente se recusa a agarrar nas saliências e vos faz cair. Pior é quando caem de uma altura enorme e como tocam nalguma parede ficam com um restinho de vida, portanto têm de recomeçar a escalada toda outra vez.
Por fim, é possível nadar debaixo de água mas a câmara também atrapalha nestas zonas e o movimento mais realista e lento torna estas secções bastante chatas, ainda por cima porque não podem lutar debaixo de água e portanto a maior parte delas são praticamente de stealth que vos força a esperar que os inimigos se afastem da vossa rota.
Gráficos, performance e som
Graficamente, Horizon Forbidden West é incrível. A direção de arte é muito parecida à do primeiro jogo mas existem imensos upgades na qualidade das texturas e interação com os elementos do cenário como as folhas que reagem ao vosso contacto, algo que apenas foi introduzido na versão de PC de Horizon Zero Dawn.
O sistema de partículas é um mimo e confere um ambiente espetacular ao jogo, especialmente quando jogam a 4K. Este foi o primeiro jogo que preferi jogar a 4K e 30 FPS do que a 60 FPS no modo performance.
Este modo reduz imenso a qualidade das texturas devido à resolução mais baixa. As particulas em especial ficam incrivelmente esbatidas e a resolução dos reflexos fica muito baixo. A 30 FPS não notei quedas nem problemas de frame pacing e rapidamente me habituei ao framerate mais baixo. Mas jogar Horizon Forbidden West a 4K com HDR é incrível.
A captura facial e lip sync é um dos melhores já feitos até hoje e mesmo os NPC fora das cutscenes possuem animações e expressões faciais realistas.
Os loadings são incrivelmente rápidos, fazendo uso do SSD da PS5 que permite que mal os vejam, especialmente quando fazem fast travel para uma parte completamente diferente do mapa.
Os únicos problemas gráficos que notei foram os cabelos que por vezes parecem ter vida própria e o ocasional pop-in de personagens, especialmente nalgumas cutscenes de missões secundárias.
A nível de som, o voice acting é bom no geral, mas existem alguns personagens das missões secundárias que quase parece que foram buscar uma pessoa qualquer à rua para fazer a voz deles. A banda sonora, por outro lado é excelente e ainda não vi quantas músicas existem mas devem ser imensas porque praticamente não ouvi faixas repetidas.
Conclusão
Horizon Forbidden West é uma sequela que melhora em tudo o que o original fez de bem, mas não atinge ainda a perfeição dos seus sistemas, o que seria de esperar quando existe tão pouca inovação no design, especialmente no mundo aberto.
Apesar do mundo bem criado, nota-se alguma fadiga no design dos jogos de mundo aberto, pior ainda quando 3 dos últimos 4 jogos que joguei são deste género (e ainda nem comecei o Elden Ring). No entanto, tal como no primeiro jogo, Horizon Forbidden West tem sempre alguma coisa para fazer no seu mundo, seja recolher materiais, lutar com humanos ou máquinas, libertar um acampamento ou explorar ruínas, todos bem espaçados uns dos outros para que nunca tenham a sensação de estar a correr num espaço vazio.
Graficamente, é um jogo Next-Gen que ainda possui alguns traços da geração antiga, muito provavelmente por conta do seu design. Mas não deixa de ser impressionante a qualidade que tem numa consola de mesa, com particular destaque ao facto de se conseguir manter silenciosa mesmo durante as sequências mais pesadas.
Mas não deixa de ser um excelente jogo que deve fazer parte do vosso catálogo, especialmente se forem donos de uma Playstation 5.