O DVD que veem na imagem abaixo contém aquele que é um dos demos que joguei mais na minha PS2. Não estou a falar do Metal Gear Solid 3 ou do God of War, mas sim do Tiger Woods PGA Tour 2006.
Porquê? Porque simplesmente era um jogo no qual conseguia relaxar e era super acessível. Sempre achei piada ao golfe e na minha opinião é um excelente desporto que consegue ser jogado como passatempo de descontração mas requer imensa habilidade para ser jogado num nível competitivo.
Claro que não é um desporto propriamente acessível a todos, portanto a possibilidade de o experimentar numa consola era o mais próximo que tinha na altura.
Aquilo que tornava estes jogos de golfe tão atraentes para mim era exatamente o facto de serem possíveis de jogar de forma altamente casual e eram bastante intuitivos, quer a nível das regras, quer a nível dos controlos.
Depois de horas a jogar jogos de ação sabia bem pegar nesta demo e simplesmente dar umas tacadas, tentando melhorar o resultado da última vez.
Anos passaram desde a última vez que joguei um jogo de golfe, por isso quando surgiu a hipótese de testar o novo PGA Tour da EA Sports, nem pensei duas vezes. Estava curioso para ver como estes anos de evolução tecnológica melhoraram a experiência.
Claro que não estava à espera de pegar no jogo, meter todas as opções de simulação e suceder bem, no que toca a este jogo, entrei como um completo novato mas se há coisa que a EA Sports faz bem (ou costuma), é introduzir uma curva de aprendizagem nos seus jogos.
FIFA ou NHL são bons exemplos disto. Podem nunca ter jogado um jogo destes e safarem-se bem na menor dificuldade, que vão aumentando progressivamente há medida que ficam melhores no jogo. Existem modos de treino que vos explicam o que têm de fazer caso precisem de melhorar alguma técnica.
PGA Tour falha completamente neste quesito. Existem várias opções de assistências e acessibilidade mas são completamente atirados aos lobos no que toca aos modos de jogo. Sim, é possível jogar de forma casual mas apenas no Quick Play, no qual podem usar os melhores golfistas do mundo mas acreditem que notam bem a diferença quando usam o vosso personagem criado para literalmente todos os outros modos de jogo.
Eu, o cepo
No início do jogo podem criar um personagem. O editor é bastante simples e existem cerca de 4 variações masculinas e femininas que podem escolher. Podem editar algumas das partes mas no geral os personagens estão sempre dentro daquele “arquétipo”.
Comecemos pelo principal problema: a progressão. O vosso objetivo é começar como um golfista amador e ganhar torneios até conseguirem entrar no PGA Tour para competirem contra os melhores do mundo.
Sendo que começam com cerca de 65 nas estatísticas, o vosso golfista é claramente limitado. Não possui as principais técnicas que os melhores têm, por isso não têm tantas ferramentas para conseguir acabar buracos com menos tacadas.
É aqui que surge o primeiro obstáculo. Os torneios amadores, são tudo menos amadores. Os jogadores da IA, mesmo com a dificuldade mais baixa terminam os torneios todos com uma pontuação de 4 ou 5 tacadas abaixo do Par (o número de tacadas definidas para cada buraco).
Os torneios duram também várias semanas e basta um buraco menos conseguido para vos arruinar imediatamente a competição, ao ponto de nem valer a pena continuar, simplesmente simulam as semanas que faltam e voltam ao início.
Segundo é a quantidade de experiência que ganham por ronda. Até cerca de nível 20, conseguem subir relativamente rápido mas depois disto, cada nível requer uma quantidade absurda de níveis. Por exemplo, a nível 25 precisam de cerca de 35 mil de experiência e cada ronda de 4 ou 5 buracos dá-vos uns 6 ou 7 mil de experiência.
Para piorar, cada nível dá-vos pontos de habilidade, mas os custos para as diversas técnicas aumenta cada vez mais conforme o nível, o que requer uma quantidade exorbitante de grind.
Para aumentar o grind, cada taco e a bola podem receber upgrades. Estes upgrades são comprados na loja e possuem várias raridades, que aumentam a bonificação conforme a raridade.
Os mais raros, obviamente, são estupidamente mais caros e existem dezenas de tacos que podem usar e ainda podem definir a distância de cada um. É um autêntico pesadelo tentar ajustar a nível granular cada um destes, apenas indicado a jogadores hardcore.
O jogo faz um péssimo trabalho em guiar novos jogadores
Depois existem os desafios de “coaching”. Estes desafios incluem desde tentar acertar tacadas simples no green ou no fairway, a tentar colocar curvas, tacadas com vento, colocar bolas perto do buraco para o put, etc.
Cada desafio tem objetivos para 1,2 e 3 estrelas sendo que as 3 estrelas são obtidas ao conseguir fazer sempre a tacada certa. Mas qual tacada, ou qual técnica? O jogo nunca vos diz o que têm de usar ou como o fazer.
Por exemplo, um dos desafios era usar uma técnica para colocar a bola no green. Após várias tentativas em que coloquei a bola no green e não recebi a estrela achei estranho. Pelos vistos, tinha de trocar de taco para o fazer. Como não conheço as regras ou os termos todos, tinha dado jeito que o jogo me dissesse que tinha de escolher outro taco para o fazer.
A maior parte da frustração neste jogo vem do facto de o próprio jogo nunca vos ensinar como interpretar o que têm à frente.
Quando preparam uma tacada, existe uma sombra que aparentemente vos mostra o local onde a bola pode cair e uma linha que mostra a trajetória que a bola pode levar até lá. Por vezes, a trajetória está num sítio completamente diferente da sombra onde a bola deve cair.
Existe também a opção de colocar efeito na bola mas mesmo esta opção não oferece clareza no que realmente faz, pois por vezes a bola não segue a trajetória que devia (mais sobre isto em frente).
O pior é mesmo durante o putting. Podem ativar uma grelha que supostamente vos indica a inclinação mas o jogo nunca vos diz exatamente como ler esta grelha e mesmo no green nem sempre é claro onde existem diferenças de inclinação caso joguem sem a grelha.
A inconsistência das tacadas
Para mim o principal problema é o quão inconsistente é o sistema de tacadas. Existe uma espécie de linha que acompanha o “swing” do taco e a ideia é que ao chegarem a um certo ponto, vão atingir a bola com a força certa. Isto era assim antigamente, mas agora existem outros elementos escondidos.
Na realidade, o swing é dividido em essencialmente duas partes: o backswing que é quando levantam o taco e o forward swing que é quando vão atingir a bola. Existe uma barra que vos diz se fizeram over swing ou underswing ou seja se moveram o taco na distância certa, mais ou menos.
Tudo isto afeta a força que colocam na bola e principalmente, a qualidade da vossa tacada no que toca também à pontaria com que atiram a bola. Infelizmente, voltamos ao problema de não existir no jogo nada que vos ensine a dar a tacada ideal.
Além disso, se moverem o analógico para os lados, vão bater de lado na bola e em vez de a atirarem para onde querem, ela vai parar sempre para onde não querem, tornando o jogo incrivelmente frustrante pois, mais uma vez, o jogo nunca vos ensina como usar estes sistemas para que possam melhorar e perceber o que fizeram de mal.
Isto também contribui para uma má interpretação da força que têm de usar. Por vezes a tacada vai com força a mais, por vezes vai com força a menos e em todas essas situações a ideia que tenho é que movi o analógico sempre da mesma forma.
Isto de certa forma é aliviado quando jogam em Quick Play com os melhores golfistas, pois possuem habilidades que mitigam estes erros devido às suas estatísticas mais altas.
Imensos modos de jogo
Quick Play por si só tem vários modos de jogo que podem escolher, desde jogar sozinhos, com amigos localmente, jogar em duplas, por equipas, etc.
Depois têm competições online nos quais usam o vosso personagem ou podem participar em torneios que são online contra os outros jogadores, mas jogam de forma assíncrona, ou seja, fazem uma pontuação e no fim do tempo limite as recompensas são distribuídas.
Além dos desafios de coaching ainda existem centenas de desafios de marcas conhecidas, que permitem obter equipamentos cosméticos para o vosso personagem.
Gráficos, performance e som
Graficamente PGA Tour não é um colosso, sinceramente a este ponto e com o grafismo que temos hoje em dia, esperava mais de um jogo cujos cenários são tão pouco dinâmicos. Não significa que sejam maus, simplesmente estava à espera de mais.
Ainda assim, a quantidade de campos de golfe licenciados é excelente e existem dezenas de buracos para aprender e dominar.
As expressões faciais do nosso personagem por exemplo achei bastante básicas e por vezes robóticas em demasia, especialmente quando transitam de uma expressão para outra.
A nível de performance, na Xbox Series X e durante o jogo não notei problemas nenhuns mas existem outros problemas técnicos que tornam a jogabilidade bastante má e pelo que li nos forums parece ser um problema na Xbox.
Existe uma quantidade obscena de input lag no jogo. Ao ponto de acreditar que é uma das razões pela qual as tacadas por vezes não funcionam como deve ser. É comum fazer o backswing e o jogo não responder ao forward swing e simplesmente a trajetória da tacada ficar toda desviada.
O pior caso que notei foi nos menus que simplesmente não respondiam aos botões e do nada abriam o menu que tinha escolhido à uns quantos segundos atrás.
A nível de som, a banda sonora até é boa e gostei bastante dos comentários e até se lembram de jogadas que fizeram em rondas anteriores. A reação do público também está excelente, ficam em silêncio quando vão dar a tacada e vão aumentando o barulho há medida que percebem que a bola vai para um sítio bastante favorável. Cria um ambiente bastante autêntico e até vos ajuda a ficar moralizados quando conseguem uma tacada impressionante.
Conclusões
Recomendo este jogo? Se forem completos casuais ou iniciantes em jogos de golfe, não. O jogo simplesmente não possui ferramentas e argumentos para vos conseguir reter o tempo suficiente para apreciarem verdadeiramente o que tem para oferecer.
No entanto respeito imenso o facto de possuir um “skill ceiling” tão alto que acaba por oferecer imenso para os jogadores veteranos e mais dedicados.
Numa era em que os jogos têm tendência a serem cada vez mais “acessíveis” para novatos em detrimento de profundidade para os veteranos, acaba por ser uma lufada de ar fresco ver o oposto acontecer.
No entanto, mesmo os jogadores hardcore não vão gostar dos problemas de input lag que o jogo tem e acho que seria imperativo a EA Sports dar prioridade a corrigir este problema, assim como os vários problemas de ligação aos seus servidores que podem ocorrer algumas vezes durante cada sessão de jogo.