The Last of us foi a despedida perfeita da PS3, meses antes do lançamento da PS4. The Last of us Part 2 estava bem encaminhado para seguir as pisadas do seu antecessor, não fosse Ghost of Tsushima ter sido lançado cerca de um mês depois.
Na minha opinião, Ghost of Tsushima não vai ser o melhor jogo do ano apenas se Cyberpunk 2077 for adiado para o ano que vem, ou não cumprir aquilo que promete no seu último e ambicioso trailer.
Ghost of Tsushima não é um jogo perfeito e existem algumas falhas óbvias que, apesar não serem exclusivas deste jogo, nunca puseram em causa o gozo que tive ao jogar este que é um dos melhores títulos de mundo aberto desta geração e uma carta de amor ao cinema japonês clássico e à sua cultura.
O que estariam dispostos a sacrificar, para salvar a vossa casa?
Ghost of Tsushima apresenta-nos uma história incrivelmente dramática, com alguns momentos que vos deixam aquele apertão na garganta. O jogo começa com uma invasão ao Japão por parte da Mongólia, liderada pelo gigante Khotun Khan.
Bastante cedo no jogo, o nosso personagem Jin Sakai aprende da pior maneira que os guerreiros Mongóis não seguem o mesmo código de honra que os samurais japoneses, usando qualquer tipo de tática para derrotar os seus inimigos.
Após a derrota completa que leva à perda de controlo da ilha de Tsushima e da captura do seu tio Lord Shimura. Após ser também quase morto por Khotun, Jin é salvo por Yuna, uma ladra que lhe faz ver que existem outras maneiras de obter vitória, mesmo que isso coloque em risco tudo aquilo em que acredita.
Este conflito entre honra e o dever de salvar o seu povo, está incrivelmente enraizado no jogo e permite abordar a maioria das missões de uma forma mais direta e honrosa no papel de um samurai ou subtil e usando o medo no papel do Ghost.
Ao longo da campanha, Jin vai sendo acompanhado por diversos companheiros, todos bastante interessantes e com os seus próprios arcos de história que podemos descobrir através de missões secundárias.
Da história não tenho nada contra, apesar de ser a típica história de filme de samurais, acho que as performances dos atores e as suas motivações estão muito bem conseguidas, permitindo um excelente vislumbre da cultura da época e o constante conflito moral em que Jin se vê envolvido.
Samurai ou fantasma? Porque não os dois?
O jogo, no geral, oferece-vos imensas formas de abordar as missões.
Apesar de algumas missões da história vos forçarem a um estilo mais direto, geralmente durante grandes batalhas, ou mais discreto em missões nas quais não podem ser detetados, na maioria do tempo podem jogar de uma forma ou de outra. Claro que também podem ter um misto das duas, limpando de forma discreta alguns inimigos e depois abrindo caminho pelos restantes.
Enquanto samurais, podem desafiar os inimigos que encontram para um impasse, no qual têm de segurar o botão até o preciso momento em que são atacados, podendo derrotar até 5 inimigos desta forma, o que torna derrotar um acampamento bastante mais fácil.
Os inimigos podem ainda ameaçar que vão atacar e lançarem-se sobre vocês num instante, o que torna estes encontros bastante tensos. Nas zonas finais, os inimigos atacam tão depressa que nem vos deixam pestanejar.
Enquanto Ghost, podem derrotar os inimigos através de assassínio, podendo ligar estes golpes e derrotar até 3 inimigos que estejam próximos uns dos outros. Podem fazer uso do vosso arco para despachar arqueiros que estejam no topo de torres ou inimigos isolados ou zarabatanas com dardos que envenenam ou levam os vossos inimigos a atacar os companheiros.
Uma excelente mecânica é o Aterrorizar. Alguns dos vossos ataques ou ações, podem fazer com que os inimigos fiquem aterrorizados, tornando-os vulneráveis a serem derrotados com um único golpe, ou caso não os ataquem, simplesmente fogem da zona.
Combate profundo e incrivelmente satisfatório
Jogos como Dark Souls, Nioh e Sekiro oferecem um sistema de combate pesado e difícil mas bastante recompensador. Mas para mim, Ghost of Tsushima oferece um sistema parecido, sem serem constantemente punidos pelos vossos erros.
Quando vi Sekiro pela primeira vez, o combate que idealizei era exatamente aquele que temos em Ghost of Tsushima. Nunca em nenhum desses jogos me senti tanto em controlo dos combates como em Ghost of Tsushima.
O jogo continua a ser bastante baseado me atacar e defender no tempo certo, mas as janelas que têm para executar as acções, aliado à incrível brutalidade dos golpes, torna Ghost of Tsushima num jogo muito mais divertido.
O principal conceito do combate são as posturas. Existem quatro posturas que têm de utilizar para derrotar certos tipos de inimigos.
Os inimigos são divididos em quatro principais categorias: espadas, escudos, lanças e brutes, que são inimigos de maior estatura. Mesmo dentro das quatro categorias, as armas e táticas que usam são diferentes e as combinações que podem surgir, em diferente número fazem com que cada encontro pareça sempre diferente dos anteriores.
Ainda existem outros tipos de inimigos como arqueiros ou cães de guerra que não necessitam de nenhuma postura específica. Os arqueiros têm um pormenor interessante que também serve de pista auditiva, no qual avisam aos seus companheiros que vão disparar, fazendo com que eles se agachem. Podem até usar isto a vosso favor e esconderem-se atrás de um inimigo no último instante, fazendo com que as setas acertem neles.
Um dos pormenores que torna o combate também tão interessante é a visceralidade dos golpes. O sangue que jorra dos inimigos, por exemplo, segue na direção correta do vosso golpe e até quando limpam a espada, o sangue cai de forma realista no chão.
A única coisa que não gostei no combate, foi a câmara. O jogo não possui sistema de Lock On, sendo os ataques direcionados usando o analógico. O jogo até faz um bom trabalho em ajudar a acertar no inimigo correto, mas por vezes a câmara simplesmente não acompanha a ação quando existem vários inimigos e saltamos de um para o outro.
Durante os impasses, após derrotarmos o primeiro inimigo, a câmara dá umas voltas estranhas e por vezes coloca-se numa posição na qual fica obstruída, tornando quase impossível derrotar os inimigos seguintes.
Nos duelos em que lutamos contra um único inimigo, a câmara devia estar sempre focada nesse inimigo, mas em locais mais apertados, torna-se bastante complicado seguir os seus movimentos.
Os inimigos atacam por turnos, um pouco ao estilo do que vemos em jogos como Assassin’s Creed, Batman ou Middle Earth: Shadow of Mordor/War. A sua IA durante os combates é até bastante competente, mesmo que tenham sido programados para atacar em turnos.
No entanto, existem situações em que os inimigos que não vos atacam tentam flanquear ou os arqueiros disparam enquanto estão a atacar, tentando interromper o vosso combo.
O problema está quando estamos a seguir um caminho mais discreto. Podemos assassinar um inimigo quase na frente de outro, que ele vai simplesmente ignorar. Ao serem vistos, uma barra de visibilidade vai encher, mas se tiverem equipadas certas armaduras que reduzem a velocidade a que a barra enche, podem até dançar à frente de um inimigo que ele não vos detecta.
Progressão e exploração interligadas
Tsushima é uma ilha incrível de explorar. Os mais de 40 biomas fazem com que nunca vejam a mesma zona duas vezes, tornando a exploração bastante agradável. Além disso, tudo o que descobrem pode ser visitado mais tarde usando Fast Travel, o que na minha opinião é uma das melhores decisões no que toca ao design do mundo do jogo.
A progressão está intrinsecamente ligada à exploração do mapa. Existem fontes termais que vos aumentam a saúde, santuários que vos oferecem Charms que podem equipar para receber excelentes bónus. Podem ainda compor poemas Haiku em locais com vistas incríveis, acender faróis, cortar bambu, etc.
Além disso, durante a exploração vão encontrar vários acampamentos e vilas que têm de libertar, conferindo experiência que permite desbloquear novas técnicas usando pontos.
Estas técnicas permitem melhorar as vossas posturas, tornando-as mais poderosas, conferir efeitos adicionais às armas de arremesso e desbloquear novos ataques.
Algo que achei incrível e faz a ligação entre gráficos e exploração, é a quase total ausência de ícones no jogo. Em Ghost of Tsushima, possuem a opção de seguir o vento até o próximo objetivo usando o touchpad do comando, mas mesmo durante certas missões, em vez de vos darem um ícone para seguirem cegamente, o jogo força-vos a observar os cenários à procura de pistas sobre o próximo objetivo.
É provavelmente a principal razão pela qual usei tantas vezes o modo de fotografia, uma vez que pude realmente apreciar os cenários e em vez de me focar num ponto no centro do ecrã, consegui reparar em certos ângulos que permitiram tirar algumas fotos bastante interessantes.
Gráficos, performance e som
Graficamente, Ghost of Tsushima é um dos jogos mais bonitos alguma vez feitos. Se alguma vez vos perguntarem o que é HDR, metam este jogo a correr numa TV 4K com HDR e digam: “isto é HDR”. A experiência de jogar este jogo numa tv com as cores mais vivas é algo que não encontram em mais lado nenhum.
Os biomas possuem um contraste de cores absolutamente fascinante que pode ir desde florestas douradas ou escarlate com folhas a voar por todo o lado, grandes planícies de flores ou cobertas de neve até zonas desoladas, com o ar cheio de fumo e cinzas.
O jogo possui um modo chamado Kurosawa, que coloca os gráficos a preto e branco, com uma mistura de som mais arcaica, mas foi algo que praticamente não usei, uma vez que retira as pistas visuais e, sinceramente, ver este jogo a preto e branco é praticamente um crime.
No entanto, a performance nem sempre é a melhor. O jogo possui um modo de melhor resolução e outro de melhor frame rate. Eu joguei com melhor resolução, uma vez que o modo frame rate coloca o jogo a 1080p e fica bastante feio numa tv 4K.
Em modo 4K, o frame rate sofre algumas quedas, mas apenas notei isso nas partes iniciais do jogo, após isso, parece que estabilizou. No entanto, as ventoinhas da PS4 Pro passam o tempo a 100%, parece que a consola vai levantar voo, tornando quase obrigatório jogar de headset para abafar esse som.
Falando em som, a banda sonora do jogo é bastante boa, especialmente durante os momentos dramáticos. Joguei com as vozes em japonês (obviamente) e a performance dos atores é excelente como seria de esperar.
Conclusão
Ghost of Tsushima é um jogo incrível. Graficamente é provavelmente o melhor exclusivo de consolas já feito, possui uma história bastante interessante e a forma como a Sucker Punch conseguiu pegar em elementos de outros jogos de mundo aberto, mas tornou-os em algo que não é aborrecido de fazer deve ser celebrado.
Diverti-me tanto a jogar este jogo que acabei por platiná-lo antes de fazer esta análise. Demorei cerca de 40 horas a fazê-lo mas nem dei conta do tempo a passar.
Ainda vamos a pouco mais de meio do ano e faltam sair muitos jogos, mais notoriamente Cyberpunk 2077, mas Ghost of Tsushima será sem dúvida considerado um dos melhores de 2020.